Por Vera Marini, redatora do Social.
No ano em que Paulo Moura completaria 80 anos, o SESC Pompeia rende uma homenagem a este que é um símbolo da música instrumental brasileira. Tal fato não poderia passar em branco aqui no Social Samba Club, o reduto do bom Samba e divulgador dos grandes eventos do Brasil.
O Bamba convidado para este papo é o vocalista da Orquestra Saga de Gafieira, Gabriel Moura, ninguém menos do que o sobrinho do homem. Esta matéria da início a uma série de entrevistas produzidas pela família do Social sobre Samba, música, dança, arte ou tudo junto.
SSC: Como é ter a oportunidade de conviver com Paulo Moura e de que
forma influenciou sua formação profissional?
Gabriel Moura: Desde pequeno, meu tio Paulo me incentivava a tocar, estudar e desenhar, cumprindo do seu jeito, quando estava por perto, a função de segundo pai, já que meu pai de verdade faleceu cedo. Ele me convidava a ir assistir os seus ensaios, o que me dava a oportunidade de conhecer e conviver com os excelentes músicos que sempre o acompanharam. Comecei a frequentar seus bailes de gafieira ainda menor de idade e ficava sonhando em um dia estar naqueles palcos, até que um dia ele me convidou a fazer parte da sua banda "Paulo Moura Etc e Tal". A partir daí começou uma relação mais intensa nossa, porque eu ia para sua casa estudar as músicas que ele queria que eu cantasse, criar arranjos especiais pra elas e também para os discos que meu tio produzia. Daí me convidou pra fazer uma direção musical de uma peça de teatro e compusemos juntos toda a trilha do espetáculo: "A Saga da Farinha", da companhia de Teatro profissional TUERJ da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Quando ele saiu da equipe eu fiquei criando músicas e fazendo a direção musical de mais 20 espetáculos. Depois vieram projetos diversos como "Pérolas e Corais" um show de coro de vozes, violão e clarineta, realizado em temporada no Centro Cultural Banco do Brasil, para o qual criamos arranjos e onde eu fazia a arregimentação e direção do coro. Outros vários projetos aconteceram e um dos mais bacanas foi o show "Eternamente Baden" que tinha uma banda composta por Yamandú Costa (ainda desconhecido, recém chegado no Rio de Janeiro) e Robertinho Silva, entre outros. O show foi apresentado no Teatro Rival no Rio e no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, com músicas eternas de Baden Powell, arranjos do Paulo e meus. Viajamos juntos pelo Brasil e pelo mundo, Tocamos juntos no México, na Colômbia, em Nova York, em Paris, Marselha e Lisboa. Aprendi com ele não só os maravilhosos ensinamentos musicais como também sobre posicionamento profissional, comportamento, atitude e respeito ao palco e ao público.
SCC: Sua composição com ele –
Ao Velho Pedro – é um sucesso
tocado em todos os salões de Gafieira. Quem é o Velho Pedro?
E qual o recado
deixado por
esse Samba?
Gabriel Moura: O Velho Pedro
é o pai dele, meu avô Pedro
Moura que tinha
uma orquestra
de baile de Gafieira em São José
do Rio Preto e ensinou todos os
meus tios a tocar. Paulo compôs
o choro instrumental "Ao Velho Pedro"
que eu sempre ouvia e dançava nos seus bailes. Quando surgiu a Orquestra SAGA,
eu achei que seria interessante compor uma música que homenageasse os bailes de
Gafieira para ser nosso carro-chefe. Escolhi esta clássica do repertório dele
para escrever uma letra e aproveitei para homenagear o meu avô que, apesar de
ter falecido antes que eu nascesse, deixou um legado musical para toda a
família Moura, transformando geração após geração em músicos. Meus primos mais
velhos, meus primos da mesma idade, meus sobrinhos, muitos músicos continuam
despontando graças à iniciativa do meu avô de ensinar música aos filhos para
que não fossem convocados para as linhas de frente na época da Segunda Grande Guerra.O próprio Paulo aprovou a letra e gravou com a SAGA
"Ao Velho Pedro" sendo essa sua última e maravilhosa gravação de
estúdio, com um solo sensacional que ele "tocou de primeira". A letra
fala do comportamento educado que se deve ter num baile de gafieira, da dança
de salão, do clima da orquestra e do amor dos casais de todas as idades.
"Para dançar Gafieira com perfeição
Não vá chegar afobado pelo salão
Então chegue bem devagar, puxa pra cá, roda pra lá outra vez
E vai ficar com a orquestra até de manhã
Depois sair pelas ruas cantando a imaginar
Que o baterista vai virar
E o Velho Pedro novamente improvisar..."
AO VELHO PEDRO
(Paulo Moura/Gabriel Moura)
SCC: Vindo de uma família “musical”, como vê atualmente as
várias bandas e espaços de Gafieira?
SCC: Vindo de uma família “musical”, como vê atualmente as
várias bandas e espaços de Gafieira?