Pelo futuro, por Jaime Arôxa




















Relutei em escrever este artigo, apesar de ter a impressão que não posso mudar o rumo das coisas, mas com a história que tenho na dança de salão, não posso ficar omisso, assistindo este momento difícil que a dança vive. Sei que me exponho a opiniões contrárias e também não quero levantar nenhuma polêmica, digo o que penso e o que vejo, e o faço por amor e preocupação com esta arte maravilhosa que tanto ajudei a desenvolver e quero que continue, se possível para sempre.


Acredito que a maioria sabe o quanto viajo e vendo dança pelo Brasil afora. Nessas viagens tenho escutado muita reclamação de donos de escola de dança sobre a dificuldade cada vez maior de captar alunos, e principalmente mante-los. Culpam sempre vários aspectos. Digo a eles que nunca tive e nem tenho dificuldade de fazer crescer minhas turmas, só preciso de regularidade e de um ambiente que me dê suporte para uma convivência feliz.
Mostro o quanto o boca a boca é o grande diferencial, uma escola enche a partir de seus próprios alunos, apaixonados e divulgadores incessantes da alegria que colocam em suas vidas ao encontrar a dança e a sua escola. Nada é mais eficaz que isso. Essa satisfação é resultado que uma séries de ações que juntas farão a mutiplicação acontecer. Por isso listei alguns pontos que considero importantes para fazermos uma reflexão e juntos ou separados agirmos na direção de conseguir um aumento de alunos e de oportunidades que possa vislumbrar um futuro promissor para o movimento geral da dança de salão.
Necessidade de observação do tempo de cada aluno, que numa média indicará o tempo de cada turma para instalação dos códigos básicos, que sendo ensinados além dos movimentos, irá determinar a relação do aluno com a música, com a dama, com a evolução, com o professor, com a dança enfim.

A importância de encontrar um ponto certo,entre dar o que o aluno busca e mostra o que ele precisa. Achando uma forma produtiva de divertir e ensinar. Aprender indica um pensamento concentrado e, as vezes, sério. Se divertir indica uma postura mais aberta e relaxada. Juntar os dois é o segredo de uma boa aula. Uma aula em que o resultado foi bom para o aluno porque ele, principalmente, se divertiu e bom para o professor porque ele sabe que seus alunos aprenderam.
A necessidade de um olhar mais antropológico do universo da dança e do mundo de uma maneira geral. Isso irá influenciar na escolhas das músicas por parte do professor, que por sua vez influencia diretamente na performance do aluno. O perfil dos alunos da dança de salão é o mais heterogeneo possível, assim como os gostos musicais, a sensibilidade em relação a música, etc. A trilha sonora da vida do aluno precisa ser enriquecida com uma inteligente seleção das músicas escolhidas para as aulas. O professor só irá conseguir isso com pesquisa. Em um computador com 3.000 músicas a tendencia é se repetir , a oferta demasiada leva a um conformismo e acomodação.

É urgente que as mulheres da turma entendam a necessidade da formação de novos parceiros, as vezes eles vão embora por que não são vistos ou ajudados pelo professor , apenas criticados e rejeitados por algumas alunas. Um investimento de tempo e afeto a este cavalheiros farão com que haja uma transformação. O professor precisa saber transformar. Tento dizer para as mulheres que não existe principe encantado, então encante o seu. Confie que seu colega pode melhorar. Muitos homens que poderiam ter se tornado bons amigos e cavalheiros saíram ou foram trocados um personal, mais jovem, mais rápido, mais pronto.
A revisão das metodologias aplicadas nas escolas. Um dos grandes problemas é a falta dela. Nesse aspectos é preciso ter cuidado,o problema das metodologias é que são frutos do intelecto e a dança vem de outros lugares da cabeça, do corpo e da alma. Então vejo como caminho para o meu saber a compreensão da natureza das coisas e não da cultura das coisas. As vezes o saber na dança é visto como executar uma sequencia de passos , pré-marcada, contada, ensaiada, que irá se repetir sempre da mesma forma, com o mesmo ritmo. Dançar é muito mais que isso. 

Os organizadores de congressos poderiam incluir em suas programações debates sobre o universo dança de salão, e aí os assuntos são de uma imensa variedade. Alguns profissionais da dança não gostam muito de falar de dança, claro preferem dançar. O debate não necessariamente precisa chegar a alguma conclusão, só ele existir leva uma reflexão, que leva, sempre, para o caminho das melhorias no rumo da evolução do meio-ambiente da nossa dança, como profissão.

Importante que os novos candidatos a professores e dançarinos ampliem mais seu gosto e fuja da armadilha de serem especialistas em algum ritmo. Isso tem trazido uma mudança negativa do mundo da dança, antes nos bailes se via todas as formas de dançar num só lugar, e sempre batalhei para isso acontecer em meus bailes. Hoje temos muitos professores de um só ritmo, que promove só um ritmo, em seus bailes e festas só toca aquele ritmo, que cria grupos que dançam aquele ritmo. percebe o quanto isso diminui a capacidade de massificação da dança como um todo.

Tambem acho necessário que os professores nunca parem de aprender, não se fechem na sua condição de professor e não consiga mais assimilar novos aprendizados e promover mudanças evolutivas na sua carreira de dançarino e professor. É muito difícil ser aluno depois de se tornar professor. Muitos começam a dar aulas muito cedo e paralisam o desenvolvimento pessoal de sua dança.                                                                                                                                                                              

Rio de Janeiro, 10 de agosto 2014


Jaime Aroxa