"Aqui no nosso fundo de quintal
Os corações batem com mais amor
Você que ama como nós solte a voz
Solte a voz do seu interior"
Os corações batem com mais amor
Você que ama como nós solte a voz
Solte a voz do seu interior"
Existe maior satisfação do que o regresso de alguém querido?
Por Thiago Amorim - Historiador e Poeta
Em clima de celebração, o paulistano Mário Sérgio, integrante do Fundo de Quintal de 1991 a 2008,
está de volta após exatos cinco anos. Por isso, nada mais oportuno do que falar
desse grupo que serve como referência do verdadeiro Samba.
O conjunto se
originou a partir do bloco carnavalesco Cacique de Ramos e era composto
inicialmente por Almir Guineto, Bira Presidente, Jorge Aragão, Neoci [filho do
célebre sambista João da Baiana], Sereno, Sombrinha e Ubirany – só mais tarde,
em 1981 [com a saída de Almir Guineto, Neoci e Jorge Aragão], Arlindo Cruz e
Walter Sete Cordas entrariam no grupo.
Eles se reuniam semanalmente para tocar
e o seu som chamou a atenção de muita gente importante no cenário do samba como
Beth Carvalho que os revelou em seu álbum “De Pé no Chão” de 1978; nessas
reuniões o repertório do grupo variava entre sambas de sua própria autoria e
canções de sambistas ilustres utilizando-se de instrumentos até então incomuns
nas rodas de samba como o banjo com braço de cavaquinho [criado por Almir
Guineto], o tantã [criado por Sereno] e o repique-de-mão [criado por Ubirany].
Tal junção permitia que o som lhes saísse de modo diferenciado, o que
influenciou diretamente outros grupos naquela época criando assim um subgênero
musical: o pagode.
Há quem diga
que pagode não se trata de um subgênero, mas que a palavra se refere a uma reunião de sambistas; no entanto, o título apareceu talvez
por conta da especificidade do som que lhe é atribuído o qual nos traz à memória
exatamente essas reuniões quando o escutamos. Muitos grupos partiram para uma
linha mais romântica e deixaram de dar ênfase nesse som que caracteriza as
rodas de samba; o Fundo de Quintal, mantém essencialmente essa
tradição e nos remete ao cenário que o seu próprio nome sugere, preservando o
que há de mais autêntico no samba: a espontaneidade.
É impressionante a
quantidade de prêmios que o grupo vem colecionando com o passar dos anos; basta
dizer que em 24 edições do Prêmio da Música Brasileira, o Fundo de Quintal
reuniu 17 premiações como melhor grupo em sua categoria, sem falar nos discos
de ouro e platina sendo o primeiro no gênero a alcançar um número superior a
500.000 cópias! Não é à toa, afinal o Fundo de Quintal sempre foi constituído
por sambistas respeitáveis e, com o retorno de Mário Sérgio, o conjunto passa a
ter a seguinte formação: Mário Sérgio [cavaco], Ronaldinho [banjo], Sereno
[tantã], Ademir Batera, Bira Presidente [pandeiro] e Ubirany [repique-de-mão].
O Fundo de Quintal
é fonte obrigatória para aqueles que desejam ouvir o que de melhor é produzido
em termos de samba e uma forma de resistência para os que zelam pelas suas
raízes. Que a energia de todo um povo contida no som desse formidável grupo
contagie o coração da juventude para que se perpetue a cultura mais valiosa que
temos, porque o samba é feito do improviso que há nos versos dos partideiros,
da ginga dos malandros nas gafieiras e da alegre batucada num fundo de quintal.
Discografia:
1980 - Samba é No Fundo de Quintal -
Vol.1
1981 - Samba é No Fundo de Quintal - Vol.2
1983 - Nos Pagodes da Vida
1984 - Seja Sambista Também
1985 - Divina Luz
1986 - O Mapa da Mina
1987 - Do Nosso Fundo de Quintal
1988 - O Show tem Que Continuar
1989 - Ciranda do Povo
1990 - Ao Vivo
1991 - É Aí Que Quebra a Rocha
1993 - A Batucada dos Nossos Tantãs
1994 - Carta Musicada
1995 - Palco Iluminado
1996 - Nas Ondas do Partido
1997 - Livre Pra Sonhar
1998 - Fundo de Quintal e Convidados
1999 - Chega Pra Sambar
2000 - Nosso Grito
2000 - Simplicidade - Ao Vivo
2001 - Papo de Samba
2002 - Ao Vivo no Cacique de Ramos
2003 - Festa Pra Comunidade
2004 - Ao Vivo Convida
2005 - Samba Quente
2006 - Pela Hora
2008 - O quintal do Samba'
2008 - Samba de Todos os Tempos
2009 - Vou Festejar
2011 - Nossa Verdade