Paulinho da Viola – Por Thiago Amorim
“Antigamente era Paulo da Portela,
hoje é Paulinho da Viola”
[Monarco e Chico Santana]
O mais fino elo entre a tradição e a modernidade – é como podemos
definir esse grande sambista, pois como ele mesmo afirmou “eu não vivo no
passado, o passado vive em mim”. Paulo César Batista de Farias, mais conhecido
como Paulinho da Viola, começou sua história musical cedo. Desde pequeno
acompanhava o pai – violonista integrante da primeira formação do conjunto
Época de Ouro, considerado o maior grupo de choro da história – em reuniões
musicais, das quais participavam Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Tia Amélia e
Canhoto da Paraíba.
Cartola e Paulinho
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Em 1964, o poeta Hermínio Bello de Carvalho, além de lhe apresentar os
sambas de Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Ketti, Elton Medeiros e Carlos
Cachaça, o convidou para conhecer o Zicartola [restaurante do sambista Cartola
e de sua mulher dona Zica, localizado na tradicional Rua da Carioca] onde
começou a se apresentar tocando composições suas e de outros autores. O
primeiro pagamento que ele recebeu por sua música foi das mãos de Cartola que
anos depois apontaria Paulinho como seu sucessor. Sobre isso, Paulinho disse
num depoimento, logo após a morte do mestre: “Soube que o mestre disse que eu
era seu herdeiro. Cartola não tem sucessor, que ele me perdoe lá em cima. Seu
trabalho é único”.
No final do ano de 1964, o então diretor de bateria da Portela, Oscar
Bigode, lhe fez uma visita e o convidou para conhecer a famosa agremiação de
Oswaldo Cruz. No domingo seguinte Paulinho já estava na ala de compositores da
Portela apresentando a primeira parte de um samba sob os olhos de Monarco,
Candeia, Casquinha, Ventura e muitos outros. Casquinha, logo em seguida,
acrescentaria uma segunda parte para o samba “Recado”, o primeiro de Paulinho
na Portela. Paulinho foi incorporado à ala de compositores e em 1966 apresentou
na quadra o samba “Memória de um Sargento de Milícias” para o carnaval. A
música foi escolhida para ser o samba enredo da escola; naquele ano a Portela
foi campeã e o samba de Paulinho recebeu dos jurados a nota máxima!
Em 1968, Hermínio Bello de Carvalho inscreveu a música “Sei lá, Mangueira”
na terceira edição do histórico festival de música da TV Record. A letra de
Hermínio, musicada por Paulinho, exaltava a Mangueira, escola rival à Portela.
O samba foi interpretado por Elza Soares e Paulinho passou a ser olhado com
desconfiança na Portela, embora nunca fosse questionado por isso. A experiência
do festival deixou uma dívida para Paulinho que buscava inspiração para compor
um samba em homenagem à sua escola. Finalmente, em 1970, veio a resposta que a
Portela esperava: “Foi um Rio que Passou em Minha Vida” projetou Paulinho
nacionalmente e tornou-se hino de exaltação à sua escola do coração.
P Viola e VG Portela Jun 1972 - Blog Zé Keti
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O reconhecimento do seu
trabalho vai de temas de matérias da imprensa brasileira e internacional até
diversos prêmios recebidos ao longo da sua carreira. Podemos destacar o
Golfinho de Ouro em 1968, o primeiro lugar no festival da MPB da TV Record em
1969, o prêmio Shell de 1992, o prêmio Sharp com nove troféus, entre outros.
Também recebeu do governo brasileiro em 2001 a comenda oficial da Ordem do
Mérito Cultural e o título dado pelo governo francês de Chevalier de L’ordre
des Art des Letters em 1985. Em 2003, foi gravado um documentário por nome “Meu
Tempo É Hoje” de Zuenir Ventura cujas filmagens mostram a rotina discreta do
compositor, além de encontros memoráveis com Marina Lima, Elton Medeiros, Zeca
Pagodinho, Marisa Monte e a Velha Guarda da Portela. A música de Paulinho é
composta nas formas de sambas, choros e experimentações. O samba é a forma
principal, o choro é a forma herdada do pai e a experimentação surge no intuito
de buscar novas formas, traço comum do artista.
Discografia:
Rosa de Ouro [1965]
Roda de Samba - conjunto A Voz do Morro [1965]
Roda de Samba 2 [1966]
Rosa de Ouro - volume 2 [1967]
Os Sambistas - conjunto A Voz do Morro [1968]
Samba na Madrugada - Paulinho da Viola e Elton Medeiros [1968]
Paulinho da Viola [1968]
Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida [1970]
Paulinho da Viola [1971]
Paulinho da Viola [1971]
A Dança da Solidão [1972]
Nervos de Aço [1973]
Paulinho da Viola [1975]
Memórias Chorando [1976]
Memórias Cantando [1976]
Paulinho da Viola [1978]
Zumbido [1979]
Paulinho da Viola [1981]
A Toda Hora Rola Uma Estória [1982]
Prisma Luminoso [1983]
Eu Canto Samba [1989]
Paulinho da Viola e Ensemble [1993]
Bebadosamba [1996]
Bebadachama [1997]
Sinal Aberto - Toquinho e Paulinho da Viola [1999]
Paulinho da Viola - Meu Tempo É Hoje [2003]